O marco que faz de Pessoa um escritor originalíssimo é a invenção de autores fictícios – os heterónimos – que «escreveram» partes da sua obra. Cada um deles «tem» uma personalidade, uma biografia, uma fisionomia, um caráter e um estilo literário definidos, diferentes dos outros e do próprio Pessoa «ortónimo», isto é, dele mesmo.

Os principais «amigos imaginários» de Pessoa são os poetas Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos:

Alberto Caeiro

Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Alberto Caeiro, um dos alter egos do poeta Fernando Pessoa
(Gravura de Manuela Crespo)

Caeiro, poeta bucólico e (anti)filosófico, é o «mestre» dos heterónimos;

Ricardo Reis

Para ser grande, sê inteiro.
Ricardo Reis, um dos alter egos do poeta Fernando Pessoa
(Gravura de Manuela Crespo)

Reis, o neoclássico cantor de um novo paganismo;

Álvaro de Campos

Tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro de Campos, um dos alter egos do poeta Fernando Pessoa
(Gravura de Manuela Crespo)

Campos, o modernista exuberante do «sentir tudo de todas as maneiras».

Merece menção especial Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego, diário íntimo feito de sonhos e reflexões.

Fernando Pessoa

E Pessoa-ortónimo?

Tudo é verdade e caminho.
Fernando Pessoa, Poeta de Lisboa (1888-1935)
(Gravura de Manuela Crespo)


Ele não é apenas o demiurgo que inventa esta coterie imaginária e que nela joga um papel relevante. É também o poeta da Mensagem, único livro em português publicado em vida, conjunto de poemas dedicados aos heróis e mitos de Portugal, numa projeção universalista que olha a um futuro de grande cultura para Portugal e para a humanidade. Este futuro somos nós: leitores dos textos que ele guardou numa lendária arca – o espólio de Pessoa –, cheia de papeis, muitos ainda por publicar.


Afinal, quem é Fernando Pessoa?

Difícil responder, porque cada heterónimo e cada instante foram para ele uma «eterna novidade», cheia de poesia e beleza. Uma beleza que também tem a luz e as cores de Lisboa, a sua amada cidade, por ele magistralmente cantada. Fragmentário, contraditório, irresistível no seu labiríntico fascínio, Pessoa é autor por descobrir, com dezenas de facetas.

Da poesia à filosofia, à crítica literária, à psicologia… O génio de Pessoa desassossega-nos pela multiplicidade e deixa-nos com uma grande e fundamental questão, sempre aberta e desafiante: quem somos nós?

Fabrizio Boscaglia

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