O marco que faz de Pessoa um escritor originalíssimo é a invenção de autores fictícios – os heterónimos – que «escreveram» partes da sua obra. Cada um deles «tem» uma personalidade, uma biografia, uma fisionomia, um caráter e um estilo literário definidos, diferentes dos outros e do próprio Pessoa «ortónimo», isto é, dele mesmo.
Os principais «amigos imaginários» de Pessoa são os poetas Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos:
Alberto Caeiro
Caeiro, poeta bucólico e (anti)filosófico, é o «mestre» dos heterónimos;
Desenhos e gravuras nos quartos do piso 3 dedicado a Alberto Caeiro
Ricardo Reis
Reis, o neoclássico cantor de um novo paganismo;
Desenhos e gravuras nos quartos do piso 4 dedicado a Ricardo Reis
Álvaro de Campos
Campos, o modernista exuberante do «sentir tudo de todas as maneiras».
Merece menção especial Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego, diário íntimo feito de sonhos e reflexões.
Desenhos e gravuras nos quartos do piso 1 e 0 dedicado a Álvaro de Campos
Fernando Pessoa
E Pessoa-ortónimo?
Ele não é apenas o demiurgo que inventa esta coterie imaginária e que nela joga um papel relevante. É também o poeta da Mensagem, único livro em português publicado em vida, conjunto de poemas dedicados aos heróis e mitos de Portugal, numa projeção universalista que olha a um futuro de grande cultura para Portugal e para a humanidade. Este futuro somos nós: leitores dos textos que ele guardou numa lendária arca – o espólio de Pessoa –, cheia de papeis, muitos ainda por publicar.
Desenhos e gravuras nos quartos do piso 2 dedicado a Fernando Pessoa
Afinal, quem é Fernando Pessoa?
Difícil responder, porque cada heterónimo e cada instante foram para ele uma «eterna novidade», cheia de poesia e beleza. Uma beleza que também tem a luz e as cores de Lisboa, a sua amada cidade, por ele magistralmente cantada. Fragmentário, contraditório, irresistível no seu labiríntico fascínio, Pessoa é autor por descobrir, com dezenas de facetas.
Da poesia à filosofia, à crítica literária, à psicologia… O génio de Pessoa desassossega-nos pela multiplicidade e deixa-nos com uma grande e fundamental questão, sempre aberta e desafiante: quem somos nós?
Fabrizio Boscaglia
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