Goulart: «Qualquer caminho leva a toda a parte»

Patente no Lisboa Pessoa Hotel desde junho até setembro de 2019, a exposição «Qualquer caminho leva a toda a parte» do artista português Goulart, propõe uma interpretação pitórica da cidade de Lisboa inspirada na obra de Fernando Pessoa e na paisagem urbana que envolve o Lisboa Pessoa Hotel, na zona lisboeta do Carmo.

A cidade de Goulart esconde e manifesta o mistério da busca do conhecimento, enquanto a sua criação artística revela a «procura constante da essência de Lisboa em Pessoa», numa leitura estética que privilegia a metafísica e um jogo de espelhos simbólicos através de cores, formas e códigos coerentes ao longo das dez peças em óleo em madeira, que compõem a exposição.

O título da exposição é o primeiro verso de um poema de Pessoa de 1919, escrito um século antes das pinturas serem realizadas, em que a reflexão sobre o ser e o conhecimento da subjetividade humana é central:

«Qualquer caminho leva a toda a parte.

Qualquer ponto é o centro do infinito.

E por isso, qualquer que seja a arte

De ir ou ficar, do nosso corpo ou espírito,

Tudo é estático e morto. Só a ilusão

Tem passado e futuro, e nela erramos.

Não ha estrada senão na sensação

É só através de nós que caminhamos.

[…]»

O projeto artístico da exposição envolve geneticamente o Lisboa Pessoa Hotel, já que cada pintura representa a visão de uma Lisboa da zona do Carmo, a partir das janelas e dos terraços do hotel dedicado a Lisboa, que surge na mesma morada onde Pessoa ia imprimir a revista literária Orpheu, por ele fundada. Nas palavras de Goulart:

«A partir dos múltiplos eixos verticais que emanam das dimensões do Lisboa Pessoa Hotel, propõe-se uma redescoberta da paisagem urbana. Dos heterónimos, de Orpheue das janelas – artefactos que nos permitem observar e sermos observados. Luz que revela, ofusca e cega; que releva e esconde.»

A referida dimensão simbólica, que dialoga com o interesse de Fernando Pessoa pelo esoterismo, é trabalhada por Goulart ao imaginar o Lisboa Pessoa Hotel como uma analogia do axis mundi, eixo vertical, cosmológico e metafísico, por onde se derramam todos os caminhos do conhecimento, os quais, por sua vez, conduzem ao tudo sensacionista do pessoano «sentir tudo de todas as maneiras».

Pessoa escreveu, no referido poema de 1919,

«O caminho é de âmbito maior

que a aparência visível do que está fora,»

O comentário de Goulart a este verso, que complementa a sua obra pitórica, é: «Lisboa leva-nos a toda a parte, e este é um caminho visível e possível». Caminho que se desenvolve pelas peças da exposição, nas salas do piso 0 do Lisboa Pessoa Hotel assim como no restaurante Mensagem, no piso 5. Cada obra tem como título uma palavra, verso ou parte de verso do citado poema de Pessoa. Assim, a exposição pretende homenagear Lisboa e Pessoa, assim como Lisboa em Pessoa, e ainda Pessoa em Lisboa, através de um olhar poético, delicado e íntimo, que o ambiente cosmopolita do hotel valoriza neste jogo de espelhos, de aparentes paradoxos e de sínteses ao mesmo tempo hieráticas e ansiadas.

Fabrizio Boscaglia

A Exposição «Qualquer caminho leva a toda a parte» de Goulart ficará em exposição permanente nos espaços do Lisboa Pessoa Hotel (piso 0) e no MENSAGEM – Restaurante a Bar Panorâmico (Piso 5) até ao dia 19 de setembro 2019.

Entrada Gratuita. Apenas necessita registar a sua visita na receção do hotel.

Goulart, de seu nome Luis Miguel Goulart Bettencourt Moniz, nasceu em 1963 em Angra do Heroísmo. Desde muito cedo que Lisboa é a sua cidade adoptiva. Tem o desenho e a pintura como seu hobby desde 2012, altura em que aprendeu as regras básicas do desenho com Inês Mendes. Posteriormente foi aluno da pintora Fatima Mateus. Em 2014 e 2015 estudou desenho com a pintora Susana Chasse. Em 2016, é aluno de Luis Vieira Baptista e desde 2017 frequenta o atelier de Gabriel Garcia com o qual tem vindo a desenvolver novos caminhos autónomos.