O ano de 1921 ficou marcado, na vida e na obra de Pessoa, pela fundação da empresa e editora Olisipo. Batizada com o antigo nome da cidade de Lisboa – que significaria «Porto seguro» e estaria ligado à lenda de Ulisses enquanto fundador da cidade – esta entidade comercial e literária foi criada por Pessoa com o objetivo tanto de promover a cultura e o comércio lusitanos a nível internacional, como de publicar a literatura portuguesa e mundial em Portugal. Este espírito cosmopolita da empresa reflete-se num dos possíveis nomes alternativos que provavelmente Pessoa pensou dar à empresa: Cosmopolis.

A «Olisipo, Agentes, Organizadores e Editores» funcionou entre 1921 e 1923, e o seu primeiro escritório foi localizado, no ano de 1921, na Baixa de Lisboa, precisamente na Rua da Assunção, nº 58, 2º. Já em 1922, a empresa – que tinha como sócios, para além de Pessoa, Geraldo Coelho de Jesus (engenheiro) e Augusto Ferreira Gomes (escritor e jornalista) – mudou de morada. O logótipo da Olisipo foi ideado por Almada Negreiros.

No que respeita ao projeto de edições, este era muito ambicioso, mas pouco se chegou a publicar, nomeadamente, em 1921, o livro A Invenção do Dia Claro do já mencionado Almada Negreiros, e os livros de Fernando Pessoa English Poems I-II, integrando os poemas «Antinous» e «Inscriptions», e English Poems III, a conter «Epithalamium». Trata-se de dois dos pouquíssimos livros que Pessoa publicou em vida, sendo ambos em língua inglesa. Além destes volumes, saíram ainda, em 1922, Canções de António Botto, e, em 1923, Sodoma Divinizada de Raul Leal.

O objetivo de Pessoa, através da Olisipo, assim como de outras tentativas empresariais, que desempenhou ao longo da vida, era o de conseguir uma certa estabilidade económico-financeira, que lhe permitisse dedicar-se à sua obra literária e ao seu pensamento, sem ter de se preocupar com o dinheiro. Contudo, Pessoa nunca conseguiu tal objetivo, e Olisipo ficou como um dos muitos projetos iniciados e não plenamente concretizados.

Para além da parte editorial, que deveria inicialmente incluir traduções (que não chegaram a ser publicadas), a Olisipo incluía a «Companhia de Produtos Portugueses», finalizada à divulgação de Portugal no estrangeiro, e ainda um segmento comercial enquanto serviço de intermediação de negócios.

Fabrizio Boscaglia

Textos consultados:


António Mega Ferreira, Fazer pela Vida, Um Retrato de Fernando Pessoa, o Empreendedor, Lisboa, Assírio & Alvim, 2005.
Ana Maria Freitas, «Olisipo», Modern!ismo: arquivo virtual da Geração de Orpheu, página consultada a 30 de dezembro de 2021.

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