O bairro chamado Chiado é conhecido como sendo «a capital de Lisboa», pela sua centralidade, importância e elegância no contexto da cidade portuguesa. É, além disso, um bairro conotado pela presença marcante da literatura, quer em termos de lugares e monumentos literários (livrarias, estátuas, etc.), quer de presença biográfica e/ou ficcional de escritores e protagonistas da literatura portuguesa, entre os quais o mais conhecido a nível mundial é, sem dúvida, Fernando Pessoa. Neste artigo, encontram-se identificados e brevemente descritos cinco importantes lugares literários do Chiado, escolhidos entre os muitos sítios que fazem do próprio Chiado um dos bairros mais literários e fascinantes de Lisboa e de Portugal.

No que respeita ao topónimo Chiado, este tem vido a ser utilizado vulgarmente desde o século XVII. Segundo alguns, era o nome do proprietário de um botequim, uma taberna boémia, situada nesta parte da cidade. Outros ligam o nome ao poeta popular quinhentista António Ribeiro Chiado (ao qual é dedicada uma estátua no centro do bairro, perto da estátua dedicada a Pessoa). Outros ainda relacionam a palavra ao caraterístico ruído («chiado») dos transportes sobre a calçada lisboeta nesta zona da cidade.
Do ponto de vista histórico, a zona do Chiado é de ocupação humana muito antiga, tendo sido nesta área que, em 1147, acamparam os cruzados, aliados do primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques, durante a conquista de Lisboa. Posteriormente, esta zona foi ocupada por séculos por conventos e outras instalações religiosas, vindo progressivamente a ser urbanizada e tornando-se, desde a reconstrução de Lisboa pós terramoto de 1755, num dos bairros mais elegantes, frequentados e caraterísticos da cidade.
Eis cinco entres os lugares literários do Chiado, que são imperdíveis para qualquer turista literário e no âmbito profissional do Turismo Literário:
Praça e Estátua de Luís de Camões

A estátua dedicada a Camões domina a paisagem urbanística do Chiado, conferindo a esta zona da cidade um inequívoco caráter literário. Instalado em 1867 naquela que logo se tornou na Praça de Luís de Camões (coloquialmente dita “Largo de Camões”), da autoria do escultor Vitor Bastos, o Monumento a Luís Vaz de Camões homenageia o grande poeta português, autor do poema épico-nacional Os Lusíadas (1572). A estátua, realizada em bronze, assenta sobre um pedestal de pedra, que integra esculturas de oito importantes figuras da cultura portuguesa dos séculos XV-XVII, nomeadamente Fernão Lopes, Fernão Lopes de Castanhede, Francisco Sá de Menezes, Gomes Eanes de Azurara, Jerónimo Côrte-Real, João de Barros, Pedro Nunes e Vasco Mouzinho de Quevedo. Entre as obras literárias em que a estatua de Camões é mencionada, consta o romance O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago (1984).
Saiba mais aqui sobre o Monumento a Luís de Camões.
Café Brasileira do Chiado – Estátua de Fernando Pessoa

Inaugurada em 1905 na Rua Garrett, a Brasileira servia café vindo de Minas Gerais, cujo negócio era desenvolvido pelo proprietário Adriano Teles. Este, aliás, abriu outros cafés com o mesmo nome, em Lisboa e em outras cidades portuguesas. Um dos cafés literários da Lisboa do século XX, a Brasileira hospedou várias vezes Fernando Pessoa, ao qual é dedicada a famosa estátua que o representa sentado com uma cadeira vazia ao lado, na qual milhares de curiosos, turistas e leitores sentam para tirar uma fotografia. A obra, do artista Lagoa Henriques, foi realizada no centenário do nascimento do poeta (1988). Outros escritores que frequentaram a Brasileira foram Aquilino Ribeiro, Mário de Sá-Carneiro e Teixeira de Pascoaes. O café tem hospedado obras de artes, entre as quais, durante décadas, uma obra do artista modernista Almada Negreiros, companheiro literário de Pessoa na revista Orpheu (1915).
Saiba mais aqui sobre a Brasileira.
Largo Rafael Bordalo Pinheiro

Antigamente chamado Largo da Abegoaria e agora dedicado ao ilustrador Rafael Bordalo Pinheiro (que nesta zona veio a falecer em 1905), este largo hospeda o edifício no qual se realizaram em 1871 as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, lideradas pelo poeta e filósofo Antero de Quental, que Pessoa considerava o seu «precursor». Trata-se de um dos eventos mais marcantes da história da cultura portuguesa contemporânea. O grupo de intelectuais das Conferências incluía Eça de Queirós e tinha a sua origem no «Cenáculo», que se reunia para refletir sobre literatura e política na casa de Antero, no Bairro Alto. Trata-se da célebre e influente Geração de 70, um grupo heterogéneo de intelectuais do qual faziam parte, entre outros, Oliveira Martins e Teófilo Braga. Alguns deles, nas décadas seguintes, também frequentaram o grupo “jantante” dos Vencidos da Vida, no Café Tavares, ainda no Chiado.
Saiba mais aqui sobre as Conferências Democráticas.
Grémio Literário de Lisboa

O Grémio Literário, situado desde 1875 na Rua Ivens (Palacete Loures), foi criado mediante carta de D. Maria II em 1846, o acto fundador sendo acompanhado pelas palavras da rainha de Portugal: «considerando Eu que o fim dessa associação é a cultura das letras e que pela ilustração intelectual pode ela concorrer para o aperfeiçoamento moral». Entre os fundadores do Grémio Literário, figuram os dois principais nomes do Romantismo português, isto é, o historiador e escritor Alexandre Herculano (que foi o sócio nº 1 do Grémio) e o poeta e dramaturgo Almeida Garrett. Muitas e importantes obras literárias referem o Grémio, uma menção especial merecendo o romance Os Maias de Eça de Queirós (1888). Ao longo das décadas, esta importante instituição lisboeta tem hospedado inúmeras atividades literárias e culturais, nas quais têm participado várias gerações de intelectuais, artistas e leitores.
Saiba mais aqui sobre o Grémio Literário.
Livraria Bertrand

Fundada em 1732, a Bertrand ganhou em 2010 o Guinness World Record como livraria em atividade mais antiga do mundo. Instalada desde 1773 na Rua Garrett aquando da reconstrução de Lisboa pós-terramoto, a livraria tinha sido fundada pelo livreiro francês Pedro Faure. O nome da livraria deve-se aos irmãos franceses Pierre e Jean Bertrand, sócios de Faure. Foi na Bertrand que se conheceram dois entre os mais importantes intelectuais portugueses do século XIX, Alexandre Herculano e Oliveira Martins. A livraria tem sido frequentada, ao longo das décadas, por inúmeros leitores e escritores, entre os quais os da Geração de 70. Com efeito, um dos organizadores das acima referidas Conferências Democráticas foi o político socialista José Fontana, que trabalhou enquanto livreiro na própria Bertrand. A Bertrand tem sido também uma importante editor e hoje é a maior rede de livrarias em Portugal.
Saiba mais aqui sobre a Bertrand.
Sobre o bairro do Chiado, a sua história, a sua vida cultural e o seu riquíssimo património, recomendamos ainda a consulta do precioso site e-chiado.pt, gerido pelo Centro Nacional de Cultura (CNC).
Fabrizio Boscaglia
_
Descubra Lisboa & Pessoa, a partir do Lisboa Pessoa Hotel.