Uma Exposição dedicada ao Azeite e Artesanato. Música dos Oh Laurinda e muita conversa e debate na Conferência Olivoturismo: o regresso às origens, que aconteceu durante a tarde de domingo, de dia 13 de outubro, no Évora Olive Hotel. Acolheu 51 participantes. Nesta conferência, debateu-se o Estado da Nação do Azeite do Alentejo, mas a conversa mais acesa aconteceu na mesa de debate Literacia em Azeite. Questionou-se sobre quem são os culpados de não haver literacia em azeite (ou existir pouca) ou de haver ainda necessidade de se falar deste tema. Sendo o olivoturismo o tema da conferência escutaram-se os vários interlocutores, com projetos ligados a esta área, e o Turismo de Portugal que aposta no Turismo Industrial, onde o olivoturismo entre outras atividades se inserem.
Exposição Azeite e Artesanato
Painel Conferência Olivoturismo: o regresso às origens
Rui Torrão, Administrador do grupo Art and Soul após ter dado as boas-vindas aos oradores e aos participantes, referiu que a “importância dada ao azeite e à temática do olivoturismo ajudará a levar mais valor para o interior quando já se olha com alguma desconfiança para o turismo. Quando antes, este era visto como fator de riqueza”. E deixou algumas perguntas para reflexão:
- em que medida o turismo pode ajudar a divulgar e proteger o azeite?;
- como pode apoiar e criar valor às comunidades locais e produtores?;
- como pode ajudar a que haja uma melhor literacia sobre o azeite, do seu processo e produção e dos seus benefícios para uma alimentação saudável e de que forma isto ajudará a um incremento do consumo?;
- como pode o negócio beneficiar do turismo com respeito à preservação de património?;
- que principais traços distintivos tem o azeite português com especial destaque ao azeite do Alentejo?;
- pode o turismo desempenhar algum papel na valorização do Azeite português?
José Manuel Santos, Presidente da ERT do Alentejo e Ribatejo, diz que “Évora precisa de rejuvenescer a hotelaria. Évora tem uma hotelaria com tradição e história com equipamentos com muita qualidade, mas os conceitos ligados às novas tendências do mercado e do consumo são muito importantes e esta iniciativa desempenha um papel importante nessa vertente”.
Adianta ainda que “é importante que a fileira do azeite se associe à fileira da hotelaria e restauração, como tem acontecido com o Enoturismo”. Refere, também, que “têm trabalhado muito com o CEPAAL, e não vamos ficar dependentes dos ciclos dos fundos europeus, temos uma linha de trabalho consistente, no apoio à estruturação do produto, na promoção. Temos a ideia de fazer um grande evento do Olivoturismo para o ano.”
“Queremos apostar no olivoturismo como produto premium, um produto que valoriza o turismo rural e as experiências gastronómicas.”
Mesa de debate Azeite do Alentejo: O Estado da Nação
José Manuel Santos, Presidente da ERT do Alentejo e Ribatejo deu duas notas importantes; “o turismo deve apostar em projetos diferenciadores para serem aprovados. Não somos um destino de massas. “Small is beautiful do que big is better””. Deu exemplo de um projeto que vai nascer ligado ao Turismo Industrial em Viana do Alentejo que mantém parte da traça e construção tradicional.
“Devemos ligar as pessoas às tradições, onde o Olival se insere e o Olivoturismo. É um produto muito ligado ao território e às comunidades.”
Gonçalo Morais Tristão, Presidente do CEPAAL disse que “tendencialmente, a produção nacional de azeite tem vindo a subir. A qualidade do Azeite do Alentejo foi muito incrementada. O investimento em lagares foi considerável”. Adiantou que “o setor do Azeite tem de estar ao lado das universidades, dos viveiristas para ser mais produtivo, para crescer”.
Mariana Matos, Secretário-geral da Casa do Azeite referiu que a expetativa para esta campanha é de aumento de produção, o clima está mais favorável. Em termos do “Azeite do Alentejo, este representa 80%, quase 90% da produção nacional. Novas plantações de olival, sobretudo no Alentejo. Aponta-se para 190 mil toneladas para este ano e isso deve-se ao muito investimento que houve na região do Alentejo e obviamente à disponibilidade de água, devido à barragem do Alqueva.”
“Quanto ao olivoturismo, temos uma riqueza enorme. Visitar lagares como o Lagar do Fojo, entre outros pontos. Construir rotas pelo Alentejo. Trabalhar com entidades públicas, com os produtores. Fazer sinergia com a gastronomia, o vinho, com os queijos, algo integrado com o azeite.”
Francisco Dias, Coordenador nacional do projeto Olive4all referiu que temos que “valorizar o Património histórico, as práticas rurais”. Referiu, ainda, que “o Património Olivícola combina bem com o Turismo. Em Portugal, poucos sabem que graças ao escritor Alexandre Herculano o azeite ganhou qualidade. Servia para máquinas, para iluminação, mas não servia para a alimentação. Pouco valor se dá à ligação de Saramago às oliveiras da sua terra. Tudo isto nos dá sentido de identidade e vai contra a “mcdonaldização da cultura”. Existem tantas oportunidades para Chefs e gastronomia, turismo criativo, “musificar” e valorizar património que está desativo, uma panóplia de possibilidades e o Alentejo tem tudo isso. ” Adiantou, ainda que a dinamização da Rede do Dia Mundial da Oliveira tem tido bastante adesão. “O projeto Olive4ll fez estudos sobre o perfil do olivoturista. Este apresenta idade madura, bom poder de compra, urbano, tem profissões muito diversas, com nível cultural elevado”. Através de questionários que foram realizados, obtiveram-se resultados que demonstraram que os turistas consideram muito interessante fazer degustações de azeite; conhecer um olival milenar. Mas 94% respondeu que nunca tinha tido uma experiência desse tipo. “O objetivo principal deste projeto é sermos úteis.”
Nuno Paixão, Olivicultor Azeite 4C e proprietário do Monte Morena, turismo rural diz “incomoda-me que digam que o preço vai baixar. Não me incomoda que baixe, mas o azeite só é digno de ser falado se tiver qualidade. Sem água não teríamos a produção que temos. Os lagares estão mais avançados. Tenta-se controlar as temperaturas das massas, tudo isto custa dinheiro e leva a investimentos. Só conseguimos vingar no mundo estrangeiro com monovarietais e respetivamente com a Cobrançosa. A Cobrançosa, a Cordovil e Galega devem ser agarradas num centro de estudo e explicar às pessoas que são variedades de melhoramento”. 40% da produção é exportada para a Europa para mercados como Hungria, Polónia, Bélgica e Suiça, e 60% para consumo nacional. “Tivemos um prémio em Nova Iorque mas não exportámos para lá por falta de quantidade”.
Mesa de Debate – Literacia em Azeite: Mito ou Convicção de uma Mentira?
Ana Carrilho, diretora da Unidade de Negócio de Azeites do Esporão garante que “a literacia em azeite é fundamental. É muito difícil valorizar o azeite sem o conhecermos. Em vez de se perguntar se é um bom ano para o azeite, se teremos um azeite de qualidade, as pessoas só se preocupam com o preço”. Como educamos as pessoas? “As escolas são o melhor lugar para a aprendizagem. Não se vê uma cadeira de azeite nas escolas de hotelaria. Os Chefs falam dos produtores, mas não falam do produto em si. Não existe um curso de sommelier de azeite.”
“O consumidor porque tem azeite em casa, acha que já sabe tudo sobre azeite. Já arranjei problemas em casa de amigos porque critiquei o azeite. Criticar o azeite às vezes é pior do que criticar o marido.” O nosso público em termos de provas é maioritariamente estrangeiro, de nacionalidade brasileira.
Edgardo Pacheco, Jornalista e curador de projetos ligados à gastronomia, vinho e azeite diz que “há duas maneiras de olhar para a alimentação: sensorial e do lado da saúde. Azeite e Saúde é um assunto gasto. O que é mais importante é falar sobre a literacia em azeite em Portugal. Existem claramente benefícios se a sociedade for letrada e comer bem.
O setor do azeite é responsável pela falta de literacia em Portugal. O setor não se entende. Muita dinâmica nos últimos anos, principalmente no sul.
Não criamos marca. Vendemos a granel. É um país que produz ostras, tomate, mas não cria marca.
A ignorância é muito grande em relação ao azeite. É miserável a educação das escolas de hotelaria em Azeite. Não existe. Incompreensível que não haja aulas de análise sensorial de azeite.
Consome-se 1 garrafa de vinho numas horas, mas acha-se caro 1 garrafa de azeite que dá para muitas utilizações”. Há que “trabalhar em diversas frentes ao mesmo tempo: nas escolas apostando nas crianças, e também nos adultos; haver dinâmicas com 10 chefs de várias regiões criando a partir do azeite. Fazer dos Chefs estrelas com o Azeite. Existem iniciativas gastronómicas o ano inteiro de norte a sul, faltam iniciativas de azeite novo de norte a sul”. Adiantou que no dia 23 novembro, irá haver em Lisboa uma iniciativa dedicada ao azeite novo, com experiências gastronómicas.
Ricardo Faria, CEO da LOA | The Olive World diz que “o Azeite é banalizado. Pior que não saber, é achar que se sabe. Mudar mentalidades é difícil. E não se procura saber mais. Os portugueses não se interessam. Só se interessam pelo preço. Não olham para a data de validade. Não sabem o que significa ser azeite virgem, virgem extra, azeite refinado. Muitos produtores de azeite não têm literacia em azeite. Não sabem provar azeite. Não têm espírito crítico sobre o que fazem.”
Mariana Carmona e Costa, Diretora Agrícola & Azeite, Pousio informa que “os consumidores têm muitas dúvidas e não sabem onde as tirar. Sem literacia, só escolhem preço. Itália vem comprar azeite ao Alentejo. Põem nas linhas deles e conseguem vender mais caro do que nós. Gastam a divulgar, a investir em formação nas escolas e nós não.”
“O Chef virou moda. Porque é que eles não sabem nada de azeite? Gasta-se dinheiro no polvo, mas não há preocupação com o azeite que o rega.”
Sérgio Frasco, Guia Enoturismo da Cartuxa, Fundação Eugénio de Almeida, esclarece que “juntam sempre as duas provas: a de vinho e a de azeite. Temos turistas a perguntar sobre provas de azeite e visitam o lagar. Turistas estrangeiros, não portugueses. Já tivemos mais 30.000 visitas. 85% já fez prova de vinho e azeite.”
Prova de Azeite na Conferência Olivoturismo
Mesa de Debate – O Olivoturismo é uma realidade?
Teresa Ferreira, diretora do Departamento de Dinamização dos Recursos Turísticos, Turismo de Portugal, diz que sobre as críticas acerca da falta de cadeiras em Azeite nas escolas de hotelaria, que iria passar a mensagem.
O “Turismo industrial identificou vários tipos de atividade: o agroalimentar; moda e têxtil, extrativo, olivoturismo, gastronomia e enoturismo. Em relação ao olivoturismo ainda existe muito trabalho a fazer. Há que estruturar e levar aos consumidores aos produtores, aos lagares sejam eles tradicionais ou mais industrializados e modernos.”
Bárbara Monteiro, Wine & Olive Oil producer, Mainova informa que a Mainova “tem adega e Lagar de provas tanto para vinho, como para provas de azeite técnicas. Fazem visita ao olival, explicam o processo e fazem a prova técnica”. Em termos de público, são na maioria turistas brasileiros ou americanos. A prova de azeites e vinhos é a mais procurada.
Henrique Herculano, Olive Oil Executive Director, Casa Relvas diz que estão a entrar no olivoturismo e que “o Lagar da Casa Relvas já tem visitas de portugueses e estrangeiros”, apesar de ser uma aposta recente. A Casa Relvas aposta no olivoturismo, havendo contratado uma pessoa apenas para coordenar e dinamizar os programas.
Joana Ribeiro, Responsável Olivoturismo, Lagar do Marmelo (Dep. Marketing Oliveira da Serra)
As visitas ao olival, explicação de produção e prova têm destaque no Lagar do Marmelo. “80% de visitas de portugueses, e 13% brasileiros. Nota o português bastante interessado no Azeite.”
Marta Jordão, Olivicultora e Produtora de Azeite, Monte de Portugal diz que a sua unidade de turismo está aberta desde 2010. “Todos que visitam a herdade são “obrigados” a fazer a prova técnica de azeite”. O passa palavra através das recomendações nas várias plataformas faz com que “os hóspedes já cheguem com curiosidade e querem fazer as provas técnicas de azeite e compram azeite”. E é público português. Promovem visitas ao Olival de Galega centenário e explicam todo o processo. Têm também qualidades de cobrançosa e cordovil, mais recentes, de agricultura biológica. “Azeites de variedades diferentes têm sabor, cheiro e atributos diferentes. O azeite que está nas garrafas de supermercado não é português.”
Exposição Azeite e Artesanato, Cocktail e Oh Laurinda
Haveria muito mais a dizer e há ainda muito mais a fazer e a aprender.
Descubra a analogia do processo de produção no espaço físico do hotel e descubra mais sobre a Oliveira, a azeitona e o azeite.
A maioria dos artigos do nosso blog foram escritos por um dos maiores especialistas em azeite, Professor José Gouveia.