E se lhe dissermos que a atividade de apanha de azeitona é algo tão bonito, quanto complexo e já foi documentado por um fotógrafo amador que nasceu em 1881?
António Cezar d’Abrunhoza documentou com rigor e detalhe, no livro Olivais e Lagares, o processo desde o Olival ao Lagar. Um processo que tanto tinha de trabalho duro, como lúdico porque depois do trabalho, vinha a festa, ou adiafa.
O trabalho deste ilustre fotógrafo amador foi homenageado através de filme e ganhou um prémio na 18.ª edição do ART&TUR – Festival Internacional de Cinema de Turismo, que decorreu no Fundão.
Prémio “Melhor Etnografia” no XVIII ART&TUR, Festival Internacional de Cinema de Turismo, no Fundão

Fotografia de ART&TUR
O Évora Olive Hotel recebeu o prémio “Melhor Etnografia” com o filme “Olive Groves and Olive Oil Mills of Antonio Cezar d’Abrunhoza (1881-1941)”, na 18.ª edição do ART&TUR – Festival Internacional de Cinema de Turismo, que decorreu no Fundão.
Este projeto é um tributo ao trabalho fotográfico de António Cezar d’Abrunhoza, realizado por Maria Inês Mansinho em memória de seu avô.
Foi através do Professor José Gouveia que o Évora Olive Hotel chegou até Maria Inês Mansinho. Esta concedeu uma entrevista durante a “Conferência Olivoturismo: o regresso às origens“, organizada pelo Hotel, em outubro de 2024.
Quem foi António Cezar d’Abrunhoza?

Nasceu em 1881, António Cezar d’Abrunhoza — proprietário agricultor, de olhar atento e curioso, moldado por uma condição que o afastou dos sons do mundo. Surdo-mudo e sem acesso à educação formal, encontrou na fotografia uma linguagem própria, silenciosa mas eloquente, para dizer o que não conseguia com palavras.
Através da lente captou os gestos, os rostos, os tempos da terra. Das oliveiras ao lagar, este fotógrafo amador construiu álbuns visuais que hoje são preciosos testemunhos da cultura rural portuguesa.
Maria Inês Mansinho descobriu esse legado através de sua mãe, que em tempos foi ajudante e confidente do avô. E transformou essas imagens em tributo vivo. O filme premiado é o culminar desse gesto de memória e gratidão.

Fotografias do Livro Olivais e Lagares em exposição no Évora Olive Hotel
À entrada do Évora Olive Hotel encontram-se expostas algumas das suas fotografias, nas quais é possível percorrer a jornada do azeite: da apanha da azeitona ao labor no lagar, dos rostos em esforço às mãos em partilha. São imagens que falam de um tempo em que tudo era manual e cíclico, onde o olhar de António Cezar d’Abrunhoza encontrava beleza no mais simples movimento. Via com um detalhe que poucos escutavam.





Hoje, graças ao trabalho incansável da sua neta, esse olhar sobrevive. Em 2003, Maria Inês Mansinho publicou o livro Olivais e Lagares: uma edição limitada que reúne fotografias a preto e branco de seu avô, detalhando o processo de produção do azeite. Lançou ainda outros dois livros, um sobre o ciclo do pão e outro sobre a vinha.
Num tempo de ruído constante, as fotografias de António Cezar d’Abrunhoza convidam-nos ao silêncio. E, nesse silêncio, ouvimos tudo.
Agradecemos imensamente a Rafael Barros pela produção deste filme. E deixamos um agradecimento muito especial em homenagem a Maria Inês Mansinho.
_
Descubra mais sobre o Azeite & Évora, a partir do Évora Olive Hotel.